quarta-feira, 14 de maio de 2008

BILHETAGEM ELETRÔNICA NO ÔNIBUS

O SISTEMA DE BILHETAGEM ELETRÔNICA NOS ÔNIBUS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Estes dias quando vinha de Bayeux à João Pessoa em vez de vir de ônibus resolvi vim de Transporte Alternativo, entre outras coisas esta decisão de se deu pelo fato de estar atrasado para o que ia fazer. Então, quando vinha dentro o motorista parou o carro em um ponto de ônibus e perguntou a uma senhora, que alí estava parada, se ela desejava ir no carro. A senhora mostrou o cartão eletrônico que possui para utilizar nos ônibus, com isso querendo dizer que não poderia ir no carro por que não iria pagar a passagem em dinheiro, em espécie, e sim através do cartão. E isso fez com que eu e o motorista do carro começássemos a conversar sobre a introdução do cartão eletrônico nos transportes “públicos” de Bayeux, o que também ocorre em João Pessoa e Cabedelo. Conversamos sobre as conseqüências que o cartão trouxe para a sociedade e para a economia local. Por exemplo, quando existia o vale-transporte comprávamos o famoso talão de vales, que continha 30 vales, e podíamos andar tanto de ônibus quanto de transporte Alternativo, pois os motoristas de Alternativo recebiam vales, e muitas vezes até passe-estudantil, como pagamento da passagem. Já com a introdução do bendito cartão eletrônico isso não é possível, pois, o cartão elimina quase todas as possibilidades do passageiro pegar outro transporte que não seja o ônibus, a não ser que o mesmo tenha dinheiro para pagar a passagem do Alternativo.

O chamado sistema de bilhetagem eletrônica também impossibilita o empréstimo de vale-transporte ou passe-estudantil. Como sabemos isso era muito comum entre os usuários de ônibus. Por exemplo, se um trabalhador tinha que ir trabalhar e não tinha o vale-transporte para ir, pegava alguns emprestado com um amigo e depois pagava. Quando um estudante não tinha o seu passe-estudantil para ir pra escola ou pra faculdade fazia o mesmo que o trabalhador, pegava emprestado com algum amigo. Porém, com a introdução da SuperModerna bilhetagem eletrônica isso se tornou impossível, pois o cartão eletrônico é pessoal, um trabalhador não pode emprestá-lo para um amigo usá-lo no mesmo dia que irá precisar. E o pior de tudo é o cartão de passe-estudantil que é pessoal e intransferível, e mega-individualizante, tanto que possui a foto de identificação do proprietário da cartão.

O vale-transporte e o passe-estudantil tradicionais também possibilitavam a troca desses produtos por outros, o que também era muito comum, como a troca por lanches, por exemplo. Quantas vezes eu mesmo estava ali na rodoviária, antes de ser construído a Integração, esperando o ônibus e com fome, porém, sem dinheiro para comprar o lanche e pegava e trocava vale-transporte ou passe-estudantil por salgados, refrigerantes etc. Ou seja, tínhamos uma moeda de troca que podíamos negociar com ela, nos possibilitava uma maior liberdade no seu uso. Já com a SupeMmoderna (que se diz, ou dizem seus defensores, extremamente positiva para a população) bilhetagem eletrônica nos tornamos quase que escravizados dos ônibus, e por consequência das empresas que administram o transporte público na cidade, que por sinal nada fazem para melhorarem a qualidade de vida da cidade, o que fazem é aumentar a passagem dos ônibus, há! nisso eles peritos, pós-graduados.

Como o vale e o passe-estudantil era uma moeda de troca várias pessoas viviam da compra e venda dos mesmos. Ali mesmo na rodoviária era o principal local de trabalho dessas pessoas, mas também existiam em outros locais, geralmente nos pontos de ônibus mais movimentados. Esses trabalhadores compravam vale-transporte e passe-estudantil e revendiam, com isso ganhavam algum lucro, como qualquer atividade econômica no sistema capitalista. Já com a introdução do moderno sistema eletrônico isso se tornou impossível e passou a ser uma atividade em extinção, ou melhor, se extinguiu.

Com esta realidade poderíamos realizar diversas pesquisas no âmbito da Sociologia e da Economia, por exemplo. Podem ser feitas pesquisas sobre os transportes Alternativos, sobre a melhoria dos seus carros, o que é algo extremamente visível – eu mesmo já ví vários carros novos sendo usado para a realização deste serviço, a exemplo de: Gol, Golf, Celta 2008, Corsa sedan 2008 entre tantos outros- a todos que prestem atenção. Também podem ser pensadas pesquisadas sobre a movimentação da economia por parte dos transportes Alternativos, o perfil dos trabalhadores que exercem esta profissão etc.

Escrito por Claudiovan Silva
Graduando em Ciências Sociais

3 comentários:

Rafa Cavaquinho disse...

Belo texto neném. Concordo plenamente que o sistema de tranporte "público" da grande João Pessoa precisa ser mais pesquisado, tanto para a melhoria das formas de usos dos mesmos, como para o conhecimento cietífico das dinâmicas urbanas que está inserido.

Dany Melo disse...

Parabéns pelo texto, Claudiovan!
Olha, não que eu seja positivista como vc mencionou no texto,mas mantenho opinião diversa da sua.
Sou a favor do sistema de bilhetagem eletrônica, é mais cômodo e seguro. O problema agora é melhorar a qualidade do trasporte público, qualidade de horários, veiculos e atendimento.
Gostei do blog, agora me tornarei visitante cativa se me permitir! rsrs

Grande abraço!

Unknown disse...

Realmente o texto é muito bom, mas voçê so bateu em uma única tecla que foi grande diversidade de possibilidades que se podia fazer com os velhos passes. Mas só para citar, além da segurança que a "bilhetagem eletrônica" traz por à circulação de dinheiro ser menor ainda podem ser integrados a esses sistema outras funcionalidades como contagem de passageiros para melhorias continuas nas linhas e gps que identificaria quaisquer eventuais problemas ocorridos com os "carros". Sobre o "pedir emprestado" as pessoas precisaram apenas se acostumar com o sistema e nao deixar faltar credito em seu cartão.