quinta-feira, 12 de junho de 2008

Reflexões acerca da obra de Roger Bastide

Fazendo uma leitura do mini-curso 7- “Dois momentos da África entre nós: estudos antropológicos de Candomblé e Quilombos.” Ministrado pela professora Paula Montero (USP) na 25ª Reunião Brasileira de Antropologia (2006), podemos ter algumas reflexões acerca da obra de Roger Bastide.
Bastide faz uma interpretação das sociedades a partir, também, da interpenetração das mesmas. Seria a idéia da penetração da sociedade africana dentro da sociedade brasileira, dando uma nova configuração. A sua obra é uma tentativa de síntese do que se tinha estudado sobre África no Brasil. E dentro desses estudos, ele também tem importância por ter sido um dos introdutores dos estudos de identidade.
Suas análises para uma configuração étnica, partem de uma interpretação étnico-histórica. Ou seja, entender como os grupos produzem sua identificação étnica num processo histórico.
Uma distinção importante na obra de Bastide para o entendimento de sua interpretação, está na concepção de ideologia e memória coletiva. Sendo a memória coletiva, e não a ideologia, o fator importante para a reconfiguração da África entre nós.
As religiões africanas são, para Bastide, equivalentes da cultura africana, onde não é total, mas partes ficaram e se reproduziram. Seria a autenticidade da cultura africana, no Brasil, especificamente, em contraponto aos Estados Unidos, por exemplo, que teve que reinventar sua cultura que foi suprimida no passado.
Nessas análises de Bastide, ele não está preocupado em olhar as culturas, mas os agentes culturais. Os agentes em relação. São os grupos que se encontram.
Outro fator importante para entender Bastide, é que ele quis juntar sociologia e antropologia. Ou seja, o estudo das relações com o estudo do simbólico. E disso ele buscava entender como essas religiões foram reagindo com o espaço das relações no Brasil. E daí ele diz que as idéias migram para o Brasil, reinstalam-se, e diante das adversidades, a memória coletiva foi preservada. Sendo desta memória coletiva que se dá a configuração da África no Brasil. Em outras palavras, Bastide diz que a religião é a expressão mais elevada de uma civilização. Ou seja, se eu entendo a religião, eu entendo a civilização.
Vale salientar que estes estudos têm inspiração em Weber, onde Bastide construiu uma sociologia das configurações. Formas de agenciamento do simbólico.
É importante falar também que, além da sociologia e antropologia, Bastide dá valor à psicologia, onde ele procura entender a relação entre estrutura social e vida mental.
É, então, a sociologia, a antropologia e a psicologia sendo utilizada por Bastide para o entendimento do processo de re-significação das configurações africanas em território brasileiro, através de uma memória coletiva prevalecendo diante dos conflitos sociais.



George Ardilles
Bacharelando em Ciências Sociais da UFPB

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