sábado, 17 de maio de 2008

Elogio aos Baianos


Correio de Campinas, 06 de maio de 2008

Roberto Romano

"Desde os anos oitenta do século anterior vou à Bahia em missão acadêmica. O primeiro convite da Universidade Federal teve um responsável brilhante, na mente e alma éticas. Trata-se de José de Oliveira Arapiraca, coordenador da pós-graduação que se instalava na área educacional. Entusiasta do saber, o docente se esforçou por levar ao curso in fieri pessoas competentes de todo o Brasil e do estrangeiro, para garantir o ensino e a pesquisa rigorosos. A cada nova aproximação com Arapiraca, eu me encantava com a sua mente aguda, a pertinácia de sua vontade. Contra muitas dificuldades, a pós-graduação foi instalada e trouxe ganhos para a Bahia, com ressonância positiva no país inteiro.

Coordenador do curso, Arapiraca partiu quase do zero, mas em cada momento de sua batalha testemunhei a confiança mantida por ele face aos alunos, o respeito pelas inteligências, a fé nos processos educativos. E digo, sem medo de errar, que tal atitude era correspondida pelos estudantes. Dei cursos cujo horário seria difícil de ser obedecido à risca, mesmo em terras européias ou norte-americanas. Um deles começava as sete e meia da manhã e tinha seu término por volta de 17 horas. A maioria absoluta dos estudantes estava na sala com a minha chegada. Não apenas presença corporal, mas anímica: testemunhei o interesse refletido sobre tudo o que dizia em aula, dos silogismos complexos aos números, destes às análises epistemológicas, históricas, políticas. Não raro, recebi perguntas árduas de serem respondidas. E tais interrogações são as melhores, como reconhecem os professores retos: se não sabemos a resposta, nos dirigimos aos livros, aos colegas mais informados no assunto. Apenas assim somos dignos do título de professor: aquele que professa a amizade pelo saber, não sabichões supostamente absolutos. Dar aqueles cursos, sob a coordenação diligente de Arapiraca, foi uma das poucas bençãos que recebi na vida universitária. Arapiraca estava sempre perto, queria saber quais problemas surgiam, como os alunos e funcionários respondiam às exigências, etc.

Autor de dois livros essenciais para quem deseja conhecer a história do Brasil e de sua universidade, José Arapiraca dirigia a Faculdade de Educação da UFBA quando deixou este mundo. O primeiro livro a que me referi se intitula A USAID e a educação brasileira: um estudo a partir da abordagem crítica da teoria do capital humano (São Paulo, Cortez, 1982) . Ele é a publicação de um brilhante mestrado, defendido na Fundação Getúlio Vargas do Rio. O segundo, trata do uso indevido de escolas, pela oligarquia bahiana, o ferrete dos oligarcas postos como nomes em estabelecimentos oficiais de ensino (Fisiologismo Político e Qualidade da Educação, Ianama Ed. Salvador, 1988). Sempre que constato o uso indevido de recursos públicos (materiais ou simbólicos) na educação, releio o livro de Arapiraca para entender melhor o fenômeno. E aprendo muito a entender a mente de alguns professores - frutos de um sistema oligárquico - que enunciam coisas tremendas, em triste depreciação da própria universidade. Arapiraca conhecia as deficiências acadêmicas. Lutou para modificar as coisas educacionais baianas. Sua fala era de elevado respeito e carinho pelo povo que mantêm os campi com pesados impostos. Convicto defensor das ciências, das artes, da ética, aquele professor honrou seu nome e honrou sua terra.

O exato contrário vimos na semana passada. Outro coordenador de curso, que deveria diagnosticar mazelas e definir estratégias de resolução, considerou certo acusar discentes pelos pobres resultados em exame de curso. O coordenador levou o insulto ao povo que paga seu salário. “O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais (cordas), não conseguiria”. Nunca imaginei testemunhar algo assim, nos lábios de um professor universitário. Prova do acerto hegeliano quanto aos intelectuais, o “mundo animal do espírito”. No zoológico do intelecto vivem nobres e inomináveis, como em toda a natureza ou sociedade. Quem despreza sua gente não é nobre. Existe um orgulho autêntico e outro, de arrogância injusta. O primeiro eleva, o segundo trai essência luciferina e termina no rastejo abjeto do pó."

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Assistencialismo ou luta de classe?

O debate em torno do conceito de classes está presente na tradição clássica e contemporânea da sociologia, embora antes mesmo de uma consolidação de uma ciência sociológica já existissem classes fundamentais nos seus respectivos momentos históricos. O que não se tinha era uma análise sistemática de tal conceito.
O marxismo traz contribuição importante para esta análise tomando como categoria as relações de produção no sistema capitalista, onde a estrutura econômica é fator preponderante para constituição das classes. É dito marcadamente no conceito marxista a existência de duas classes fundamentais no Modo de Produção Capitalista. Proletariado e burguesia. Estas constituem-se num processo histórico-dialético entre relações sociais e econômicas, de distribuição de bens e serviços.
É importante frisar a idéia de “consciência em si” e “consciência para si” que, segundo Lukács, teórico marxista, é fundamental na constituição real de uma luta de classes.
Weber em seus estudos sobre a estratificação social acrescenta as categorias “status” e partido, assim como o conceito de poder para justificar que na constituição da luta de classes do sistema capitalista não é a ordem econômica única formadora de uma “situação de classe”. Temos aí a questão da “honra social” e do poder político.
Foi com esta base que se iniciaram os debates sobre a luta de classes, e é com estes fundamentos que neomarxistas e neoweberianos, assim como funcionalistas, vão travar uma discussão até certo ponto com uma confusão de conceitos para a compreensão do capitalismo avançado. Crise no mundo do trabalho e futuro das classes são temas recorrentes nos estudos de estratificação no Brasil.
Entra aí, por que não, a discussão que é tão recorrente nos dias atuais. O assistencialismo tornou-se um modo corriqueiro das elites econômicas e dos despossuídos de capital, mas com “boa vontade”, massagearem seus egos e se sentirem tranqüilos perante as desigualdades e problemas enfrentados no mundo atual. “Natal sem fome”, “Ação”, “Criança Esperança”, “Fome Zero”, “Bolsa escola”, etc. constituem projetos transformadores de uma realidade ou faz parte de um maquiavelismo político que traz consciente ou inconscientemente uma luta em busca de uma manutenção de classe no poder? Seria o assistencialismo um modo do sistema capitalista em sua transição para o neoliberalismo alienar um sujeito na história fazendo perder-se, ou nunca chegar a ter, sua “consciência para si”; dizendo “Adeus ao proletariado”; fazendo com que na luta de classes só um lado esteja ativo? Há que se discutir.
George Ardilles
Bacharelando em Ciências Sociais da UFPB

BILHETAGEM ELETRÔNICA NO ÔNIBUS

O SISTEMA DE BILHETAGEM ELETRÔNICA NOS ÔNIBUS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Estes dias quando vinha de Bayeux à João Pessoa em vez de vir de ônibus resolvi vim de Transporte Alternativo, entre outras coisas esta decisão de se deu pelo fato de estar atrasado para o que ia fazer. Então, quando vinha dentro o motorista parou o carro em um ponto de ônibus e perguntou a uma senhora, que alí estava parada, se ela desejava ir no carro. A senhora mostrou o cartão eletrônico que possui para utilizar nos ônibus, com isso querendo dizer que não poderia ir no carro por que não iria pagar a passagem em dinheiro, em espécie, e sim através do cartão. E isso fez com que eu e o motorista do carro começássemos a conversar sobre a introdução do cartão eletrônico nos transportes “públicos” de Bayeux, o que também ocorre em João Pessoa e Cabedelo. Conversamos sobre as conseqüências que o cartão trouxe para a sociedade e para a economia local. Por exemplo, quando existia o vale-transporte comprávamos o famoso talão de vales, que continha 30 vales, e podíamos andar tanto de ônibus quanto de transporte Alternativo, pois os motoristas de Alternativo recebiam vales, e muitas vezes até passe-estudantil, como pagamento da passagem. Já com a introdução do bendito cartão eletrônico isso não é possível, pois, o cartão elimina quase todas as possibilidades do passageiro pegar outro transporte que não seja o ônibus, a não ser que o mesmo tenha dinheiro para pagar a passagem do Alternativo.

O chamado sistema de bilhetagem eletrônica também impossibilita o empréstimo de vale-transporte ou passe-estudantil. Como sabemos isso era muito comum entre os usuários de ônibus. Por exemplo, se um trabalhador tinha que ir trabalhar e não tinha o vale-transporte para ir, pegava alguns emprestado com um amigo e depois pagava. Quando um estudante não tinha o seu passe-estudantil para ir pra escola ou pra faculdade fazia o mesmo que o trabalhador, pegava emprestado com algum amigo. Porém, com a introdução da SuperModerna bilhetagem eletrônica isso se tornou impossível, pois o cartão eletrônico é pessoal, um trabalhador não pode emprestá-lo para um amigo usá-lo no mesmo dia que irá precisar. E o pior de tudo é o cartão de passe-estudantil que é pessoal e intransferível, e mega-individualizante, tanto que possui a foto de identificação do proprietário da cartão.

O vale-transporte e o passe-estudantil tradicionais também possibilitavam a troca desses produtos por outros, o que também era muito comum, como a troca por lanches, por exemplo. Quantas vezes eu mesmo estava ali na rodoviária, antes de ser construído a Integração, esperando o ônibus e com fome, porém, sem dinheiro para comprar o lanche e pegava e trocava vale-transporte ou passe-estudantil por salgados, refrigerantes etc. Ou seja, tínhamos uma moeda de troca que podíamos negociar com ela, nos possibilitava uma maior liberdade no seu uso. Já com a SupeMmoderna (que se diz, ou dizem seus defensores, extremamente positiva para a população) bilhetagem eletrônica nos tornamos quase que escravizados dos ônibus, e por consequência das empresas que administram o transporte público na cidade, que por sinal nada fazem para melhorarem a qualidade de vida da cidade, o que fazem é aumentar a passagem dos ônibus, há! nisso eles peritos, pós-graduados.

Como o vale e o passe-estudantil era uma moeda de troca várias pessoas viviam da compra e venda dos mesmos. Ali mesmo na rodoviária era o principal local de trabalho dessas pessoas, mas também existiam em outros locais, geralmente nos pontos de ônibus mais movimentados. Esses trabalhadores compravam vale-transporte e passe-estudantil e revendiam, com isso ganhavam algum lucro, como qualquer atividade econômica no sistema capitalista. Já com a introdução do moderno sistema eletrônico isso se tornou impossível e passou a ser uma atividade em extinção, ou melhor, se extinguiu.

Com esta realidade poderíamos realizar diversas pesquisas no âmbito da Sociologia e da Economia, por exemplo. Podem ser feitas pesquisas sobre os transportes Alternativos, sobre a melhoria dos seus carros, o que é algo extremamente visível – eu mesmo já ví vários carros novos sendo usado para a realização deste serviço, a exemplo de: Gol, Golf, Celta 2008, Corsa sedan 2008 entre tantos outros- a todos que prestem atenção. Também podem ser pensadas pesquisadas sobre a movimentação da economia por parte dos transportes Alternativos, o perfil dos trabalhadores que exercem esta profissão etc.

Escrito por Claudiovan Silva
Graduando em Ciências Sociais

MUDANÇA NO BLOG!!

Pessoal fizemos umas mudanças aqui no visual do blog com o objetivo de ver se esse blog vai pra frente né!, quer dizer, pra ver se começam a entrarem mais neste blog e principalmente deixarem comentários sobre os textos que aqui postamos.
Pessoal esse blog é de vocês, sintam-se tão donos quanto a gente, mande suas sugestões, textos, "viajens", loucuras, qualquer coisa que você queira expressar, aqui pro blog, como já foi dito será postado aqui sem nenhuma censura.
falowwwwwww
abraços a tod@s.